8/31/2016 6 Comentários Rasbicar«Se não conseguir assinar, pode só fazer um rabisco.», disseram-me, quando fui com a minha mãe às Finanças. Fiquei calada. Não sabia como reagir. É que... eu tenho mau feitio, sabem? E não queria ser mal educada. Ou arrogante. Ou outra coisa qualquer que aquela senhora pudesse concluir. Teve de ser a minha mãe a responder. Em fevereiro deste ano, tive de ser submetida a nova intervenção cirúrgica, mas desta vez para retirar o material (ferros), que durante quase três anos me acompanharam e serviram para endireitar os meus ossos fracturados. Fiquei em cadeira de rodas durante um mês. A perna doía e andar de canadianas era insuportável. Apesar da cirurgia, a minha vida continuou e tive de ir às Finanças com a minha mãe buscar uma palavra-passe qualquer, para aceder a um qualquer site. Sim, nós já a tínhamos pedido online, mas hoje em dia precisamos de palavras-passe para tudo e mais alguma coisa e cada site tem as suas especificações para as "passes" (usar pelo menos um número, uma letra maiúscula, etc.), que se torna praticamente impossível memorizá-las a todas. Por isso, perdi-a. Convenhamos... o site das Finanças não é o mesmo que o nosso site preferido onde passamos horas a admirar roupa, sapatos, a ver fotografias ou a falar com os amigos. O caminho até à referida instituição foi, no mínimo, interessante. No entanto será algo que abordarei num próximo post. Depois de chegarmos e de esperarmos pela nossa vez, fomos até ao balcão onde me esperava uma senhora. Quando a cumprimentei, a mesma reparou que eu estava em cadeira de rodas e o seu comportamento para comigo modificou-se. Não me olhou mais nos olhos, evitando-me, mesmo. Acabei por não conseguir expor o que pretendia - as pessoas têm aquele dom de ignorar a diferença só porque não sabem como agir e, nesta situação, a senhora nunca percebia o que eu queria. Teve de ser a minha mãe a pedir uma palavra-passe, depois de eu ter dito que queria uma palavra-passe, mas que a senhora não percebeu. Ora, pelos vistos, pedir uma senha, para a página da web que só é popular porque é obrigatória, é complicado e exige burocracia a mais do que ao que era suposto e eu tinha de assinar uns papéis. Finalmente havia chegado o momento em que a senhora iria interagir comigo. Posou o papel ao pé de mim, apontou para a linha da assinatura e, com os olhos voltados para o seu teclado (sempre voltados para baixo), disse-me «Se não conseguir assinar, pode só fazer um rabisco.». Fiquei sem palavras. Fiquei revoltada. Não por mim, mas por toda a gente que, infelizmente, se encontra em cadeira de rodas numa situação definitiva e vive todos os dias com comentários deste tipo, como se fossem menos capazes. Não consegui responder-lhe. Não queria ser mal educada. Estava a ferver e a qualquer momento ia explodir. Eu sabia, a minha mãe sabia e teve de responder por mim: «Oh, sabe? Ela está no último ano da universidade.» E depois acrescentou: «Em Arqueologia.», como se isso quisesse dizer tudo, mas, sobretudo, como uma chapada de luva branca. Sorri. A expressão de vergonha da senhora, foi melhor do que dizer qualquer «Vá pó crl*» à boa maneira portuguesa. A minha mãe é a maior! Assinei os papéis e vim embora. M. Calças / Jeans: Zara Botins / Ankle Boots: Eureka Shoes
6 Comentários
A prima que te ama
8/31/2016 02:25:48 pm
Tu não tens uma doença rara, a tua força é que é rara
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Maria Inês Monteiro
8/31/2016 02:35:17 pm
Obrigada do fundo do coração ❤
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Alvaro
8/31/2016 03:15:02 pm
Por muito dificil que seja o não responderes a este tipo de comportamento foi a melhor coisa que podias ter feito,eu acho que n ia conseguir ser bem educado e não perder a calma. Infelizmente ha pessoas que não foram feitas para atender o público. Em grande Maria
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Maria Inês Monteiro
8/31/2016 03:49:00 pm
Obrigada!
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Alvaro
8/31/2016 04:55:31 pm
Só por acaso😂😂
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Maria Inês Monteiro
8/31/2016 05:12:07 pm
Só por acaso ✌?.
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