12/9/2016 6 Comentários MedoMedos, quem não tem?!
Sim, há uns que efetivamente são compreensivos, outros são estranhos. Hoje conto-vos sobre o meu medo estranho. Conhecem a trilogia Senhor dos Anéis, certo? Quem não conhece? Pois é, é isso mesmo que estão a pensar: o meu medo estranho era ao filme Senhor dos Anéis e quem me segue no Instagram já teve a oportunidade de comprovar isso. Tudo começou em 2001 quando o meu pai me ofereceu o filme em desenhos animados. Ora, estando eu habituada a filmes de princesas e de mundos encantados super pink, não estava preparada para aquilo: um filme escuro, violento e com bonecos feios (e estou a ser simpática!). Confesso que nem prestei atenção à história tal era o horror com que estava a assistir à cena. Não correu bem. Cheguei a ter pesadelos durante algum tempo e, portanto, nunca mais peguei naquilo. Escondi o filme o mais atrás possível na prateleira e hoje encontra-se numa caixa e não sai de lá. Problema resolvido, right?! Não. Desde que comecei a namorar, há quatro anos e meio, que o rapaz me chateia para ver o filme, porque eu vou gostar, porque é altamente, porque se gosto de Harry Potter vou gostar do Senhor dos Anéis, porque ele também me faz as vontades todas, como ver a trilogia do Regresso ao Futuro quinhentas vezes num ano, porque todos os argumentos e mais alguns que a imaginação dele conseguir inventar. Estão a perceber o desespero? Acho que não. Cheguei ao ponto de já não conseguir dizer-lhe que não e de já não conseguir fugir ao dito cujo. Este ano, o tema tornou-se numa constante e eu, já não podendo mudar de assunto, lá lhe prometi que via o filme. A partir do momento promessa a conversa mudou rapidamente de rumo, passando a ser quando. Quando é que o vamos ver? Quando?, tu prometeste! Caros leitores, nunca prometam nada, sobretudo às crianças, que não podem cumprir. Acabei por estabelecer um limite: eu iria ver o filme com ele até ao dia de Natal. Entretanto, chegou o frio, a neve, a chuva e o vento gelado, os trabalhos para a universidade pouco apetecíveis e a vontade de ficar em casa enrolada num cobertor e de pijama com um chá a ver um filme. Mas que filme?! Para mim a resposta era óbvia - Regresso ao Futuro (novamente). Contudo, eu havia prometido. Havia prometido assistir ao filme que outrora me tinha atormentado o mundo dos sonhos. E assim se iniciou o cumprimento da promessa e hoje de madrugada lá acabamos a trilogia. Não é que ele tinha razão (mas não lhe digam!)?! Gostei tanto de a ver que até disse que ia pôr as Minas Tirith na minha mesinha de cabeceira! Isto conta como superação, certo? E vocês, que medos estranhos têm? M.
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9/18/2016 6 Comentários Nova vidaAs mudanças custam, sobretudo quando nos são impostas e apenas o tempo conseguirá atenuar o choque. É difícil mudar e não há fórmulas mágicas que tornem os processos de transformação mais simples. Portanto, hoje trago-vos um post sobre uma nova vida, mas que se iniciou por iniciativa própria, um post bem pequenino que já queria partilhar convosco há algum tempo. Sempre gostei de cabelos grandes. Sempre gostei do meu cabelo grande. Achava que me ficava um máximo e cuidava tão bem dele, como se se tratasse do meu melhor atributo ou do meu único atributo. Tinha e ainda tenho pouca auto-estima, mas um dia cansei-me da pressão da imagem e resolvi que tinha de mudar, de o cortar. Estava decidido e não havia nada que me fizesse mudar de decisão. Não havia nada até que... bem, até começarem as incertezas: "Vai ficar bem?", "Será que me vou arrepender?". Adiei a decisão. O medo de arriscar ganhou-me. Um dia, em 2014, numa conversa, disseram-me que eu podia cortar o meu cabelo e fazer uma peruca. De facto, na conversa, a pessoa, em jeito de brincadeira, sugeriu que eu lhe podia oferecer o meu cabelo. Foi nesse dia que eu decidi: ia cortar e ia doar o meu cabelo a uma instituição de luta contra o cancro. Na semana seguinte cortei o cabelo curto, por cima dos ombros atrás e ligeiramente mais comprido à frente.. A transformação, para mim, foi um choque. Já há muito (muito) tempo que não tinha o cabelo tão curto, mas estava feliz. Senti que ia fazer a diferença na vida de alguém, mas, sobretudo, sentia-me livre. Livre da pressão da imagem, do cabelo. Sentia-me capaz para ver algo mais em mim. Estava pronta para a nova vida. Podem ver o resultado em baixo! Acredito que, de certo modo, vos pareça fútil o viver em torno de um cabelo, mas, acreditem, quando se tem pouca auto-estima, qualquer mudança tem um impacto gigante. E vocês, que outras pequenas mudanças fizeram na vossa vida por iniciativa própria? M. 9/12/2016 2 Comentários Avaliar-meO post que vos trago hoje, confesso-vos, custou-me um bocadinho a escrever, mas tive de o fazer. Escrevi-o para vocês, para pessoas como eu ou como vocês que algum dia se sentiram injustiçadas. Engana-se quem pensa que o aluno com necessidades educativas especiais (NEE) tem acesso ao mesmo tipo ensino, aos mesmos edifícios, aos mesmos direitos, à igualdade. Não tem. Para já não tem e eliminem esse pensamento da cabeça se pensam que é verdade. Há ainda um longo caminho a percorrer, inúmeras falhas a corrigir e há que ter consciência disso. Como já disse no post Parte I, eu entrei no curso de Arqueologia, pertencente à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, desde o início, soube que iria ter dificuldades pelo pensamento mesquinho e retrograda dos professores «doutores», que acham que Arqueologia é só andar a fazer buracos no chão e a carregar baldes, e que portanto eu não estava lá a fazer nada. Não é, e foi por isso que fiquei. Para lhes provar o quão errados estão (sim, porque no momento em que vos escrevo, garanto-vos que não mudaram de pensamento). E se quem está a ler isto ainda pensar que Arqueologia tem a ver com dinossauros, por favor, eliminem também isso da cabeça. Quando eu entrei para o curso, em 2013, o único pré-requisito exigido era a visão e eu cumpria-o. Aliás, talvez seja das poucas que levou um certificado médico a garantir isso. Talvez, por razões mais ou menos «óbvias», achassem que não era necessário levar um papel a dizer que eram capazes de ver. Eu compreendo. Como não compreender? Portanto, se o meu problema era a mobilidade reduzida eu podia entrar. Não havia nada que me impedisse. E não há nada que impeça vocês de entrarem, se for esse o caso. Foi exatamente o que eu fiz, e permaneci, mesmo quando me sugeriram mudar para o curso de História ou para outro que eu gostasse, que eles «lá arranjavam uma vaga para mim». Respondi-lhes que não, que gostava de desafios, de me superar e aquilo era o ideal. Por dentro, fervilhava de raiva. Como é que em pleno século XXI, com tantas histórias de sucesso, avanços quase diários extremamente magníficos na Medicina e na criação de acessibilidades, e sobretudo sem me conhecerem, podia alguém considerar a hipótese de eu desistir sem tentar? De eu sair só porque lhes ia dar trabalho planear um ensino apropriado? «doutores» não sejam preguiçosos e os reis do mundo. Vocês não sabem tudo. Durante 3 anos ouvi muita coisa que me custou e magoou. Há «doutores» que não têm sensibilidade ou «dois dedos de testa» e não sabem estar calados. Em muitos casos sorri, quando na verdade me apetecia mandá-los fod#'@. No meu primeiro ano de faculdade, fazia todos os dias Vila Real - Porto de autocarro pela IP4, porque ainda não tínhamos túnel, acordando muitas vezes às 4h da manhã e deitando-me às 00h30, porque tinha de apanhar o primeiro e último autocarro. Alugar casa no Porto ficava extremamente dispendioso, uma vez que tínhamos de arranjar uma que albergasse os meus nove animais (Sim, 9. Quatro maravilhosos cães, quatro gatos amorosos e um peixe!) e ainda tivesse condições para mim, porque eu precisava da ajuda da minha mãe. Fiz o sacrifício. Nunca cheguei atrasada a uma aula da manhã, mas, à tarde, já estava exausta pelo cansaço. Só me apetecia dormir... Nunca o fiz. Foi também no primeiro ano que o plano do curso foi alterado e muito bem, diga-se! Mas não para nós. Para quem entrar em Arqueologia agora, vai encontrar um curso mais composto, nós, ou pelo menos alguns de nós, tivemos de repetir unidades curriculares e ficámos sem outras. A alteração do curso trouxe uma novidade já há muito desejada pelos alunos: escavações no último ano (3º). Conclui o primeiro ano sem deixar uma unidade curricular para trás. Entretanto, no segundo ano surgiu a dúvida: como é que iriam ser as minhas escavações? Passei o ano inteiro a tentar informar-me o melhor possível sobre as futuras e ainda não planeadas escavações. Ninguém me sabia dar respostas concretas, porque algo «se iria arranjar». Conclui o segundo ano sem deixar uma unidade curricular para trás. Com a chegada do terceiro ano - o ano das escavações - a dúvida passou a preocupação. Eu continuava sem respostas. Tentei por várias vezes esclarecer a minha situação, mas os professores nada sabiam e não me conseguiam responder concretamente. Um dia disseram que eu devia de ir trabalhar para o Gabinete Municipal de Arqueologia de Matosinhos a tempo inteiro, mas não confirmaram a informação. Quando chegou o mês de dezembro e a reunião da Comissão de Acompanhamento, solicitei aos meus colegas que esclarecessem definitivamente a minha situação, caso contrário eu anularia a inscrição no segundo semestre, uma vez que não tinha dinheiro para gastar num ensino sem qualidade. Na reunião, um professor soltou: «outra vez esse assunto? Mas eu já lhe disse que ia para gabinete!!». (Não caro «doutor». «Deve ir» e «Vai» são coisas completamente diferentes. Caso não compreenda o significado, poderá sempre consultar um dicionário. Sei que ainda não sou licenciada e que, por isso, ao seu lado eu não sei nada, mas siga o meu conselho.) Quando eu soube do sucedido apeteceu-me fazer-lhe o «gesto português» e dizer-lhe que se ele "cagava" dinheiro, pois então que o esbanjasse à vontade, que comigo as coisas não funcionavam assim e que fosse gozar com o crl#@?!. Mas não fiz nada. Não disse nada. Fingi que não sabia de nada. É a melhor maneira de lidar com gente de mente limitada. Depois da cena da reunião e de já saber o que me esperava, lá acabei por me inscrever para o segundo semestre. Como nem tudo é mau na Universidade, pelo menos no curso de Arqueologia, uma amiga ofereceu-me um presente de Natal com o seguinte argumento: "Para que possas escavar connosco." (Sim, eu sei que tem um dinossauro, mas esqueçam lá isso. O que importou foi a atitude dela que me encheu por completo o coração.)
Quando chegou o segundo semestre já estava tudo alinhavado para as famosas escavações. O que é que eu sabia? Que ia para o Gabinete Municipal de Arqueologia de Matosinhos trabalhar sob a orientação da arqueóloga da mesma câmara e que o meu relatório de estágio, por oposição ao dos meus colegas, iria incidir-se sobre o trabalho em gabinete e teria apenas que dar uma pequena atenção ao trabalho de campo. Por mim, tudo bem. Tínhamos acordo. (Desculpem a extensão do post, mas teve de ser.) Durante as aulas, a «professora» nunca deu teórica de como trabalhar em gabinete, mas, sinceramente, esse facto não me incomodou, porque numa outra unidade curricular estávamos e bem a trabalhar isso. As escavações decorreram durante um mês no Castro de Guifões (Não viram as notícias? Ouvi dizer que foram um sucesso! #sqn). Para mim, foi um mês passado no já referido gabinete a tratar do material proveniente do castro. Os meus colegas também se dividiam em pequenos grupos e iam para lá durante três dias. Durante o mês de maio trabalhei com afinco e empenho, tal e qual como tinha aprendido na outra cadeira. Quando determinados métodos não me pareciam corretos, perguntava à arqueóloga que estava a orientar os trabalhos, o porquê de A, B ou C. Procurei trabalhar com os meus colegas em equipa e integrá-los o mais possível. Recebi rasgados elogios da orientadora e de vários colegas. Estava satisfeita com o meu trabalho. Era, muitas vezes, a primeira a chegar e a última a ir embora. Durante um mês fiquei ali, em Matosinhos. Durante o mês a minha «professora» nunca me veio visitar, perguntar se eu tinha dúvidas, se me estava a dar bem com a orientadora ou dar quaisquer orientações teóricas, etc.. Nem sequer enviou um mail. NADA. Fiquei chocada. Isto não era ensino! Depois, conclui, talvez para não entrar em pânico, que teria delegado na orientadora o apoio necessário e a avaliação. Quando chegou o mês de julho, na época de recurso, entreguei o meu relatório. Um relatório bastante extenso onde expunha todas as falhas do trabalho de gabinete, justificando-as com «teoria da especialidade», onde era sincera e dizia que não tinha tido apoio nenhum da parte da «senhora doutora», resultando numa experiência negativa/positiva para mim do ponto de vista educativo - com a reflexão sobre as más práticas também se deve de aprender, não é? Entretanto, a nota saiu. Apeteceu-me chamar-lhe put#2$, bater-lhe. Mas não. Em vez de ser mal educada e agressiva, solicitei a discriminação das notas (14 em gabinete e 14 no relatório). Fiquei escandalizada. Não com a nota do relatório, porque de certeza que a menina se havia sentido ofendida com as críticas e então «castigou-me», mas com a nota de gabinete. Como é que ela tinha tido a coragem de me dar um 14 sem nunca ter posto um pé no meu espaço de trabalho? Como não me contentei, enviei-lhe um outro e-mail a perguntar-lhe em que é que ela se tinha baseado para me dar aquela nota. Ao mesmo tempo, solicitei à minha orientadora que me desse uma opinião e avaliação relativamente ao meu trabalho. A «doutora» deu-me uma resposta de treta, fugindo claramente à pergunta, e, para dar o toque final, ainda disse que fui beneficiada. A orientadora que esteve todas as horas comigo, a trabalhar comigo e a trocar opiniões comigo, disse que eu merecia pelo menos um 16 e que eu era bastante aplicada e trabalhava bem. Respondi à «doutora» a refutar os seus míseros argumentos e acrescentei, no fim, que um 14 em nada refletia o trabalho por mim desempenhado e que tampouco me iria saber a benesse. Não me respondeu mais. Como não gostei da sua atitude para comigo e da porcaria de ensino a que me tinha sujeito, solicitei a intervenção do Conselho Pedagógico da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apresentei os e-mails trocados e os meus argumentos. Estive à espera de uma resposta durante um mês e tal, se não dois. Acabou por chegar na segunda semana de setembro. Resultado? A mesma resposta evasiva (em carta registada, uau, que chique!), com os mesmos argumentos pobres, mas acrescentou que a orientadora do Gabinete de Matosinhos não é professora, nem está habilitada para formular uma avaliação a meu respeito. Ok, confesso-vos que, nesta altura, me ri. Ri-me muito. Ela tinha tido mesmo a coragem de escrever aquilo?! E prosseguia dizendo que se eu tivesse alguma questão que poderia sempre colocar-lha. Vá, mas ela está mesmo a «falar» a sério?! É que ainda «estou à espera» que ela responda ao outro e-mail... Ela ia manter o 14 porque assim o queria, não porque eu o merecesse. Aliás, ela sublinhou que a professora era ela e avaliação era ela que dava. Quando finalmente recuperei a postura de tanto me rir, fui pesquisar se as entidades acima resolveriam o meu problema. Não podia ser como os «doutores» queriam, pensei. Mas é. Não há entidade que me possa resolver o problema e, por isso, vou ficar com um 14 numa cadeira de 12 créditos, porque não houve uma investigação a sério relativamente à minha situação, mesmo com provas, porque não há uma entidade que ponha travões aos «doutores» que se acham superiores e porque um aluno com NEE não pode ter uma nota superior aos colegas normais. Não é justo para eles. Eu percebo. Eu percebo que, assim que um aluno tem acesso a um ensino adequado às suas NEE, ele de repente seja bom no que faz, mas não é justo ser avaliado de 0-20 como os colegas. A classificação só vai até aos 13 valores, porque o 14 é uma prenda!! Ena, devia sentir-me maravilhosa comigo. Bem, posso ter ficado com o 14, mas resolvi denunciar a situação. É demasiado triste e ridículo ver ao ponto que uma «professora» chega para provar que tem razão. Mas o que é pior, é ver a protecção que existe em torno dos «doutores», que lhes permite fazer tudo o que lhes dá na gana, incluindo avaliar alunos sem os ver a trabalhar. E vocês já passaram por alguma situação em se tenham sentido realmente injustiçados? Deixo-vos aqui duas fotografias do meu trabalho. M. |
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