9/2/2016 4 Comentários O Café do AmorDepois do sucesso do post anterior e das várias mensagens que recebi de apoio foi-me extremamente difícil pensar no que escrever a seguir. Comecei a escrever sobretudo para mim e, apesar de considerar a hipótese de que alguém lesse as minhas publicações, nunca pensei que causassem tanto impacto, principalmente porque se trata um blog pequeno. Saber que alguém me lê, que alguém valoriza o que eu escrevo deixa-me radiante, mas também com aquele nervoso miudinho, «será que vão gostar?», «será que é sobre isto que querem ler?»... Já perceberam. Foi então que surgiu a ideia de escrever sobre impacto. O impacto que causamos no outro. O impacto que o outro nos causa. O impacto de um filme, de uma música, de um livro. No verão de 2013 encontrava-me de cama, literalmente, a deprimir, a pensar no que já não era, no que podia ter sido, nas coisas que não vivi e que nunca poderia vir a viver, nos obstáculos que agora me eram impostos e que eu não sabia como os superar ou se realmente os queria superar. Numa tentativa de me retirar deste estado, a minha mãe pediu-me para eu lhe fazer companhia enquanto ela ia às compras. Achei que estava a gozar comigo. Ela não precisava de companhia para nada, só ia fazer aquelas compras para a casa que não demoram nada. Não me apetecia, mas acabei por ir. Encontrar estacionamento no hipermercado foi obra. Não por não haver lugares, mas por não haver lugares grandes, já que tanto os lugares destinados a pessoas de mobilidade reduzida, como os de deficiente estavam ocupados. É sempre assim. Acabamos por arranjar uma solução e seguimos para o destino. Foi complicado habituar-me aos olhares, aos comentários, à indiferença e à ignorância. Parece que as pessoas ficaram invejosas porque eu tinha rodas e elas não. Eu sou amiga. Se me pedissem, eu podia tê-las emprestado. Nesse dia, também fiquei a saber que era demasiado bonita para estar numa cadeira de rodas - como assim?, pensei, mas foi o que uma senhora me disse, enquanto eu ia a passar no corredor dos congelados. E, como se não bastasse, chamou o marido para ver, como seu fosse algum animal fora do Zoo: «Oh home já biste? Uma rapariga tão noba, demasiado bonita para estar numa cadeira de rodas...». Depois do episódio dos congelados, que ainda hoje me faz rir, dirigi-me aos livros. Uma capa cor-de-rosa, florida e com um título «parolo» atraiu-me. Peguei nele com cuidado, abri e cheirei-o - qual é o amante de livros que não cheira?. De seguida fui ler a sinopse: Uma mulher bela marcada para a vida Um homem amargurado em busca de redenção Unidos pelo destino num lugar mágico Cathryn Deen vivia num mundo de sonho: atriz famosa, idolatrada, era considerada a mulher mais bela do planeta. A fama era tudo na sua vida. Mas após sofrer um trágico acidente de automóvel, que a deixa marcada para sempre, decide ocultar-se de tudo e todos. Escondida na casa da sua avó materna nas montanhas da Carolina do Norte, Cathryn tenta ultrapassar os seus traumas com a ajuda da sua grande prima Delta, uma mulher roliça e bem-disposta, dona do café local. Considerada por todos a alma daquele vale, Delta alimenta com os seus cozinhados e biscoitos deliciosos o corpo e o espírito dos mais carentes. Um dos seus protegidos é Thomas Mitternich, um famoso arquiteto, fugido de Nova Iorque, após os atentados às Torres Gémeas lhe terem roubado o que de mais valioso tinha na vida: a mulher e o filho. Atormentado pela culpa, Thomas acredita que nada nem ninguém lhe poderá devolver a razão de viver e, entregue ao álcool e ao desespero, espera um dia ganhar coragem para se juntar àqueles que mais amava. O destino irá cruzar os caminhos de Cathryn e Thomas numa história magnífica de superação, ensinando-os a transformar as adversidades em oportunidades e a valorizar a beleza que existe em tudo o que os rodeia. Tive de o comprar. O Café do Amor é um romance light, mas que em 2013, enquanto eu estava de cama a achar que não era capaz de fazer mais nada da minha vida, me ajudou a arranjar coragem para me superar e para continuar a sonhar. Foi este o livro que teve um grande impacto em mim. E a vocês? O que vos causou impacto? M.
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8/31/2016 6 Comentários Rasbicar«Se não conseguir assinar, pode só fazer um rabisco.», disseram-me, quando fui com a minha mãe às Finanças. Fiquei calada. Não sabia como reagir. É que... eu tenho mau feitio, sabem? E não queria ser mal educada. Ou arrogante. Ou outra coisa qualquer que aquela senhora pudesse concluir. Teve de ser a minha mãe a responder. Em fevereiro deste ano, tive de ser submetida a nova intervenção cirúrgica, mas desta vez para retirar o material (ferros), que durante quase três anos me acompanharam e serviram para endireitar os meus ossos fracturados. Fiquei em cadeira de rodas durante um mês. A perna doía e andar de canadianas era insuportável. Apesar da cirurgia, a minha vida continuou e tive de ir às Finanças com a minha mãe buscar uma palavra-passe qualquer, para aceder a um qualquer site. Sim, nós já a tínhamos pedido online, mas hoje em dia precisamos de palavras-passe para tudo e mais alguma coisa e cada site tem as suas especificações para as "passes" (usar pelo menos um número, uma letra maiúscula, etc.), que se torna praticamente impossível memorizá-las a todas. Por isso, perdi-a. Convenhamos... o site das Finanças não é o mesmo que o nosso site preferido onde passamos horas a admirar roupa, sapatos, a ver fotografias ou a falar com os amigos. O caminho até à referida instituição foi, no mínimo, interessante. No entanto será algo que abordarei num próximo post. Depois de chegarmos e de esperarmos pela nossa vez, fomos até ao balcão onde me esperava uma senhora. Quando a cumprimentei, a mesma reparou que eu estava em cadeira de rodas e o seu comportamento para comigo modificou-se. Não me olhou mais nos olhos, evitando-me, mesmo. Acabei por não conseguir expor o que pretendia - as pessoas têm aquele dom de ignorar a diferença só porque não sabem como agir e, nesta situação, a senhora nunca percebia o que eu queria. Teve de ser a minha mãe a pedir uma palavra-passe, depois de eu ter dito que queria uma palavra-passe, mas que a senhora não percebeu. Ora, pelos vistos, pedir uma senha, para a página da web que só é popular porque é obrigatória, é complicado e exige burocracia a mais do que ao que era suposto e eu tinha de assinar uns papéis. Finalmente havia chegado o momento em que a senhora iria interagir comigo. Posou o papel ao pé de mim, apontou para a linha da assinatura e, com os olhos voltados para o seu teclado (sempre voltados para baixo), disse-me «Se não conseguir assinar, pode só fazer um rabisco.». Fiquei sem palavras. Fiquei revoltada. Não por mim, mas por toda a gente que, infelizmente, se encontra em cadeira de rodas numa situação definitiva e vive todos os dias com comentários deste tipo, como se fossem menos capazes. Não consegui responder-lhe. Não queria ser mal educada. Estava a ferver e a qualquer momento ia explodir. Eu sabia, a minha mãe sabia e teve de responder por mim: «Oh, sabe? Ela está no último ano da universidade.» E depois acrescentou: «Em Arqueologia.», como se isso quisesse dizer tudo, mas, sobretudo, como uma chapada de luva branca. Sorri. A expressão de vergonha da senhora, foi melhor do que dizer qualquer «Vá pó crl*» à boa maneira portuguesa. A minha mãe é a maior! Assinei os papéis e vim embora. M. Calças / Jeans: Zara Botins / Ankle Boots: Eureka Shoes
8/25/2016 12 Comentários BorboletaComo já referi no post Parte I deste blog, eu parti a perna no ano de 2013 e, entre as várias consequências que o acidente me trouxe, a obesidade foi talvez aquela que me tenha marcado mais. Passo a explicar-vos: |
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